quarta-feira, 9 de abril de 2014

MANIFESTO DE FUNDAÇÃO - EVENTO DE FUNDAÇÃO


UM NOVO COLETIVO PARA DISCUTIR A CIDADE E A REGIÃO METROPOLITANA

Em evento público realizado na noite do dia 15 de abril, no Auditório da Faculdade de Arquitetura da UFSC, foi fundado o COLETIVO NOSSA CIDADE, grupo que congrega militantes moradores de todas as regiões da cidade e que, ao longo dos últimos anos tiveram participação destacada no processo do Plano Diretor Participativo, além de atuação em uma série de outros movimentos sociais.

Em clima bastante informal e descontraído, as pessoas falaram de suas experiências e expectativas em torno do trabalho do coletivo, sendo que já durante o evento várias pessoas convidadas confirmaram sua ‘adesão compromissada’ ao grupo. Esta é, aliás, a forma como ele pretende crescer – sólido e com qualidade, para que tenha vida longa, ao contrário de muitos grupos de vida efêmera que surgem a todo instante, especialmente no meio virtual.


O coletivo prepara previamente sua pauta para discussões a ser feitas em reuniões presenciais, sendo que a próxima será no dia 8 de maio, às 19:30h, na Sala dos Espelhos, na Faculdade de Arquitetura da UFSC.

MANIFESTO DE FUNDAÇÃO

Nos últimos anos nossa cidade vivenciou um inédito processo de discussão sobre o seu futuro. Por imposição legal do Estatuto da Cidade, embora tardiamente, em 2006 iniciou-se a revisão do Plano Diretor, que culminou com aprovação e sanção por parte do Poder Executivo Municipal somente no início deste ano. Este processo, que demandou mais de sete anos, foi premeditadamente tumultuado por golpes à democracia participativa perpetrados por sucessivos governos municipais, através de inúmeros desmandos legais de toda ordem. Não por acaso, o processo ainda permanece inconcluso, pois objeto de Ação Civil Pública ainda a ser julgada no âmbito da Justiça Federal.

O processo do PDP ‘fez escola’. Ele deixou inúmeras lições e um acúmulo de experiências que DEVEM SER resgatadas para alimentar as futuras discussões de planejamento urbano, nos inúmeros movimentos sociais debruçados sobre o tema em nossa cidade. Esta meta impõe-se para nós como uma NECESSIDADE.

É justamente o acúmulo produzido pelo riquíssimo processo sócio-político proporcionado pelo Plano Diretor Participativo, que o nosso grupo de articulação e pressão política tomará como ponto de partida para formular políticas públicas que se relacionem ao planejamento urbano de nossa cidade. Assim, analisará com atenção os desdobramentos regulatórios desencadeados pela nova Lei do PDP, de forma a apresentar propostas concretas para as dezenas de programas e planos nele contidos.

De outra parte, debruçar-se-á sobre os conflitos decorrentes das ilegalidades produzidas pelo novo projeto recém aprovado, além de pressionar pelo resgate de inúmeras demandas aprovadas pelas comunidades, de forma democrática e legítima na primeira fase do PDP, não incorporadas à lei recém sancionada.

Num cenário que indica já vivermos em meio ao colapso ecológico planetário, é impositiva a preocupação política com o meio ambiente, que se traduz através da irredutível defesa da natureza, a diversidade biológica, assim como a tudo o que faz relação direta ou indireta com o tema. Tomaremos esta premissa como um princípio básico para analisar e formular propostas sobre o planejamento urbano, atentos aos limites de crescimento econômico e à expansão urbana, e ao fato de grande parte da população da cidade viver sobre uma ilha oceânica.

Nesse contexto, a produção e o consumo de energia, o uso das águas e saneamento básico, assim como as áreas reservadas para a manutenção da diversidade biológica, são vetores imprescindíveis nas equações que darão suporte às nossas propostas. Algumas consagradas em leis, delas não abriremos mão. E na resistência para evitar retrocessos, trabalharemos para que elas recebam aprimoramentos, inovações e ampliações.

Associada a esta questão, coloca-se a discussão em torno do modelo hegemônico de cidade reinante no mundo atual, que se caracteriza por uma virtual padronização estética e funcional, caracterizada por signos, marcas e apelos mercadológicos, próprios do mercado de consumo frenético de bens, atributos que qualificam a ‘cidade mercado’.

Por outro lado, no que diz respeito à gestão pública, vimos consolidar-se nos últimos anos um modelo de democracia em nosso país que, na melhor das hipóteses pode ser considerada uma ‘democracia de fachada’, que não é exclusividade brasileira e que mais parece ser um padrão global, cenário no qual grande parte da população vive alijada das discussões de políticas públicas que lhe afeta. O ‘planejamento urbano’, por remeter a muitas questões vistas como ‘técnicas’ e que apontam para horizontes longínquos, é uma questão que, no contexto brasileiro, historicamente se ressente de efetiva participação popular. A primeira fase do PDP, entre 2007 e 2008, proporcionou a milhares de florianopolitanos um riquíssimo e inédito ambiente de discussão sobre o futuro da nossa cidade. Este período é que de fato pode ser considerado participativo conforme determina o Estatuto da Cidade.

A ‘personalidade’ do nosso grupo está ligada a uma compreensão de organização que imprime horizontalidade em seu funcionamento, que não dispõe de hierarquia interna, que trabalha com noção de objetividade e praticidade. De outra parte, mantendo absoluta autonomia política em relação aos partidos, aos parlamentares, às instituições civis e ao aparato do Estado, condição sine qua non para a sua independência de ação. Isto sem perder de vista a importância do aprofundamento científico, da pesquisa e tudo que diz respeito às contribuições oriundas da academia, dos centros de pesquisa, do conhecimento popular e das organizações sociais, estes últimos, via de regra, sempre colocados em segundo plano ao se tratar do tema planejamento urbano.

Estes quesitos, amalgamados com o compromisso político, combatividade e criatividade demonstrada ao longo do processo do PDP por parte deste grupo de lideranças que o assina, e que se soma a inúmeras experiências paralelas e concomitantes, dão a certeza que se inaugura um novo ambiente de discussão política e ecologicamente salutar para nossa cidade.

O futuro nos pertence, pois é construído hoje, aqui, agora em todas nossas ações. É o que podemos deixar para as futuras gerações.

VIDA LONGA AO COLETIVO NOSSA CIDADE !
Florianópolis, abril de 2014
Endossam:

Ataíde Silva
Fernando Matos Rodrigues
Gert Schinke
Hamilton Garcez
João Manoel do Nascimento
Julionir Andrighetti – Vermelho
Luiz Alfredo Carpeggiani
Paulo Rizzo
Raquel Camargo Macruz
Ruy Antônio Pures Alves